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Vida Airada.

16.6.06



A Lagoa Atlântica está parada.
A linha do horizonte confunde-se com o sangue-frio da linha da margem. Se é que dá para acreditar.

Sinto o Sol comer-me aos bocadinhos, como se fossemos lagarta e couve.
Duas amigas falam em italiano mesmo na mesa ao lado.
A vila decidiu abandonar a sesta e vir para a borda de água.
Estão quietos lagartos sentados deitados, todos espalhados por aí.



Finalmente consigo concretizar-me na promessa de Uma Coca Cola Light numa Esplanada pela Apúlia.
Maldita Água Suja do Capitalismo – e agora de Estética - Anos 90 que insiste em não me largar!


Só quando viajo sozinha é que consigo abranger a dimensão da quantidade de mulheres solitárias que andam por aí. Ainda há pouco me cruzei com uma quando estava sentada na água.
Vestia preto de cima a baixo.
Não lhe dou mais de setenta anos.
Estava eu a cantar virada para o mar e ela passa de mãos atrás, nas costas, olha para mim, sorri-me e oferece-me as boas tardes. Retribuí de imediato porque senti o instinto de querer que também a tarde dela fosse boa.

Não é o meu vestido vermelho que me retira solitariedade.
Reconhecemo-nos sempre que nos cruzamos na rua, que olhamos olhos umas das outras.


Ela continuou a passeata um tanto enternecida, leva as mãos ao Mar e, ao refrescar a cara fica atenta à Lagoa, até à linha.
Senti-me respirar até ao fundo.
Conheço a força que lhe sai, num emanar.

É o instrumento que desempoeiramos quando vamos fazer aquilo que temos de fazer,
provar aquilo que nos apetece reter,
guardar dentro aquilo que nos recusamos a perder.
Afinal todas nós pintamos borboletas coloridas no gesso em que nos querem aquietar.


Como suspeitava, hora de mágicos cansaços é, no reino animal, hora de conquistar patente Quem Aninha no Poleiro.
Não sei se pela minha completa imobilidade ao Sol, se pela pacificidade em que me conhecem, Andorinha e quatro pretendentes perderam-me todos o respeito.
Eles não a largam!
Apanho-os nas maiores acrobacias, nunca imaginava!
Barafustam, praguejam, reviram cambalhotas, cruzam-se em algazarra, provocam-se, competem e voam,

soberbamente voam.
Fazem abordagens rápidas e certeiras ao ninho, já pousam no chão da varanda, no corrimão, na parede, um carrossel.
E ela ali, nem se mexe.
Aninhadita debaixo das asas, de longe a longe faz festinhas nas penas brancas do peito, numa arrogância desconcertante. Aparentemente, muito mais concentrada nos nossos discos pedidos, versão fadunchos com direito a dedicatórias, do que no frenesim que a envolve no mundo das aves.

Ponho o Vira Vento que comprei hoje de manhã na varanda, ao lado do baldinho e das forminhas. Viro-o para o mar. É de lá que está a vir o vento, a resposta, ou a pergunta. Ou o teu tempo contado devagar. Ou a tua vontade de o moldar.

O que foi? Não gostas deles?
Ou não gostas destes?
Não gostas do fácil? Do que está já aqui, imediatista,
à distância de ser bicado, é?
Não é nenhum destes que esperas que venha do mar?
Estes já conheces, estes já não queres?
Sabes quem queres?
Sabes o que não queres?
Carga feminina com cabeça própria?
Ah bom, e aguardas, portanto!
A nossa varanda é posto perfeito para aninhar a pensar na vida,
no gesso em que nos encarceram
e na invasão que não conseguimos abrir ao nosso ninho
reforçado todos os dias pela manhã.

O Tinto fica aí, no chão.
Vou sair, vou ver o pôr do sol na areia.

Atrás ficam os moinhos, lá no seu lugar, no seu alto de praia.
A vista estende-te para o Sol a descer, estourado.
Todo tu és lugar do comum.
Ideia absurdamente vulgar isto de se ir ver um por do sol à praia.
Ainda por cima, vestes a fatiota!
O rádio transistor, a ficar sem pilhas, apanha apenas uma estação que te inunda com ‘Till the end of the road, People e o Hotel da Califórnia.
Tens o frio de fim de dia de praia e cobres-te com um lenço cor de vinho, lilás e rosa.
O teu caderno enterrado na areia. Mesmo ao lado do tabaco de férias.
E de um relógio de bolso que guardas como amuleto de um tempo que alguém irá guardar.


Mas que queres?! É um culto de família que me ficou.
Isto engole-me. É muito maior do que eu!
As cores, nem sequer as cores, a cor. Parece uma única cor. Tantas e só uma. E cai-te em cima, e espalma-te na areia. O que cheiras, o frio que tens, o cabelo molhado, as mãos que enterras no granulado é maior,
é muito maior do que a tua tola, tão tola!, cabeça.
E embrulha-te.
E nivela-te.
E faz-te querer mais,
muito mais da vida que te anda a viver.

Só falta aqui gente, iguais, diferente.
Falta dizer um disparate.
Ou fazer..
Faltam sons, gargalhadas e múrmuros em preguiça arrastados.
Faltam as respostas aos pedidos,
as piadas de férias, falta um outro cérebro
reconhecer-se na música que te fica da Apúlia.
Faltas tu.
E o que é teu.
Dava imenso jeito que cobrisse agora o meu.
.

Recolhi ao meu Castelo de Cartas, arrepiada pela arte a que tinha sido exposta e pelo frio que me subia pelas costas. Enchi uma caneca com café, droguei-me a abafei-me.

Ao fundo, baixinho, o prometido Karaoke das Sextas não me deixou adormecer sem me sacar três merecidas gargalhadas.

Afinal, todos os equilíbrios são precários.
Porque haveria o meu, logo o meu, ser diferente?!

A Andorinha?
A resposta que o vento trazia do mar era para ela.
Estavam os dois, aninhadinhos, um no outro.
Parecendo-me, em justiça, ser essa a imagem a guardar como fiel retrato do dia.


posted by SCS
junho 16, 2006