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mala postal a marco martins, bombeiro.

27.7.06


A morte saiu à rua num dia assim.

Falávamos de cemitérios, caixões, chumbos, campas e jazigos como quem, em tronco nu, vira sardinhas numa grelha.
Tantos cuidados com o assunto - como se fosse palavra que não se pudesse pronunciar sem postura séria e reservada - e percebi que, ao falarmos dos assuntos, conhecemos essa tal postura das pessoas na vida. E na morte.

Eis o problema desse maldito legado católico que nos cobre para nos abafar: se não abordarmos certos assuntos, entramos na via obrigatória de uma falta de postura pessoal e transmissível sobre eles.

Não sei o que fazer com o meu corpo depois da minha morte.
Disse.

Há quem se encolha atrás dos ombros num quero lá saber que não apregoa perseguidas liberdades, só grita inomináveis medos.
Eu quero saber.
Eu quero dizer a quem cá está onde pode sentar-se a conversar comigo.

E agora?
Como manter fidelidade ao meu atípico dramatismo russo?
Onde fica esse cenário de tranquilidade, avassalador em significados, que me irá acolher quando a minha palavra não contar mais para acabar as histórias?

Reconheço um certo simbolismo nisso de se ser enterrado.
Mas o pânico de prisão em espaço fechado, irrespirável e insondável ,não me permite, em coerência, confinar-me a uma caixa negra que pouco terá para explicar dos meus vôos. Ou das minhas quedas.

O Crematório que me reduz afinal a 21gramas parece anunciar-me mais sentidos. Relativiza a passagem ao estado nada e liberta o corpo de todos os seus pesos, demónios e cábulas.

Em monólogo.
Contigo parado, calado, quieto.
Continuei a dizer-te.

Mas, e depois?
Lanço-me ao vento?
Dissolvo-me em água?
Cultivo-me em terra?
Todos abarcam vida que auto se renova.

Mas, sou água, terra ou vento?
O que vem depois do fogo?
Onde me rodeio dos quatro elementos?
Onde encaixo a madeira?
O que faço ao meu sexto sentido?
Aos sete céus que conheço?
Onde guardo as Oito Cartas de Neruda?
Em que verbo se conjugam as 9Razões de Mim?

Vê isso e depois diz-me. Faço com que aconteça. Para meu espanto,
disseste tu.
Como quem despacha um ofício.
Ou como quem compra um sarilho.

Tenho um amigo que foi a Leiria e plantou cem árvores!
Digam o que disserem, é proprietário de um pinhal.
A natureza é para mim conceito tão abstracto como o tempo, ou em que se traduz a noção de 500 mil habitantes, ou ainda a tal manilha do poder.


Encolho-me quando vejo imagens da virilidade que Líbano e Israel têm trocado.
Como quem, em dança de catraios, levanta a camisola e canta o meu umbigo é maior do que o teu. Tão leviano assim.

Percebi que a nossa espécie gosta de chispas, desafios, faúlhas, lutas, discussões, divórcios e guerras. Gostamos de ver o outro cair, desamparado. E fazemos qualquer coisa obstinada para os admirarmos em queda, em puro lamento. Aliás, para provarmos uma postura temos alturas em que só nos contentamos quando ouvimos o nosso próprio corpo acertar
mudo,
em cheio,
numa parede.

E nada de falsas depurações de espécie!
De fundamentalista e louco, todos temos um pouco.
Pertencemos a uma espécie que não deixará de sentir concretização na Inquietude.

Dizem os mais esotéricos que, pela manhã, devemos deixar no mundo um pensamento de generosidade sobre alguém. Hoje, o meu foi de ti.

Estava uma belíssima tarde de Domingo. Tinha acabado de sair de casa
para a ver melhor,
e desces a rua onde moro em azafama de ambulância.
Andavas a salvar vidas, fogos, vigários e famílias.
Parei.
Repito, parei.

Não podia acreditar que existia alguém, que em plena era de guerras,
parasse o que tem na vida,
essencialmente numa belíssima tarde de domingo,
para socorrer homens engasgados,
atropelados,
solitários,
ou repudiados.
Fiquei género incrédula, a exigir clareza na vista,
no centro do peito,
no descrédito onde embalo a nossa espécie.
Não minto no meu espanto.
Só aqui, onde ninguém me vê, confesso:
Perdi a noção do espaço,
como a dos 5oo mil habitantes,
e bati com o corpo mudo no poste do passeio.
Vês?!
Não minto.
Essencialmente no espanto que ainda me faz parar.

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no universo...

Quase coço a cabeça, como se me pudesse dar tempo, para não ter de te dizer que acho que devemos comprar uma guerra na nossa aldeia.
Devemos inquietar quem passa, bufa, sobrevive, cala, queima e consente.
Quanto mais a crise incendiar economicistas em delírios e cães de caça em desespero, mais anéis penhoramos para podermos bombardear as suas deselegantes assimetrias.

O que te estou a tentar dizer?
Que quero saber.
Será sempre esse o meu maldito fundamentalismo.

Falas com o teu Quartel?
Quero plantar um Pinhal.

E quero dizer em desafio:
queimem quantos quiserem,
seremos sempre melhores a plantá-los.

Quero conhecer o lado certo da História que alguém há-de contar.
Quero mostrar-Lhe o meu umbigo.
Quero ser proprietária,
de uma belíssima tarde de domingo.
Quero depurar-me.
Quero escolher o bem que respiro.


O que fazes com as minhas 21gramas?

luz, vento, chuva e caruma,
em madeira pacientemente renovada,
conceito puro de fotossíntese.

Cá digo!

Enterras debaixo dessa árvore que ainda tenho por plantar,
ao lado do livro que sei, um dia, escrever,
para que o filho, que vou ter, saiba sempre onde se sentar para conversar.

posted by SCS
julho 27, 2006